
Conhecendo um pouco mais o Papa Leão XIII
Então, quem era esse tal de Papa Leão XIII? O nome de batismo dele era Gioacchino Pecci. Ele assumiu o papado em 1878, já bem velhinho, com 68 anos, o que na época era uma senhora idade. E ele ficou no cargo até 1903! Foi um dos papados mais longos da história, imagina só, ele viu o finzinho do século XIX e a virada para o século XX.
Ele não era daqueles papas que brigavam o tempo todo. Era mais da diplomacia, do estudo. Bem diferente do papa anterior, o Pio IX, que tinha tido uma relação super tensa com o mundo moderno e com a Itália, principalmente depois que a Igreja perdeu os Estados Pontifícios. O Pecci, ou melhor, Papa Leão XIII, herdou um problemão: a Igreja estava meio isolada, vista por alguns como atrasada, e ainda “prisioneira” no Vaticano, sem o poder temporal que teve por séculos.
Ele era um intelectual, gostava muito de filosofia e teologia, e tinha uma cabeça até que aberta para a época, apesar de ser firmemente tradicional na doutrina. Ele percebeu que a Igreja precisava conversar com o mundo, entender as novas ideias, mesmo que fosse para discordar delas. Não dava mais pra ficar numa bolha. Ele começou, por exemplo, a abrir um pouco mais os arquivos do Vaticano para pesquisa histórica, o que foi um passo e tanto.
Por que a Rerum Novarum fez tanto barulho assim?
Agora, se tem uma coisa que todo mundo liga ao Papa Leão XIII, é a encíclica Rerum Novarum. Publicada em 1891, essa carta foi tipo um divisor de águas. Sabe por quê? O mundo estava passando por transformações gigantescas com a Revolução Industrial. Tinha muita gente saindo do campo e indo trabalhar nas cidades, em fábricas que muitas vezes eram lugares horríveis, com jornadas exaustivas, salários de miséria e sem segurança nenhuma.

Qual o cenário que o Papa Leão XIII se encontrava
- O capitalismo selvagem da época, que pensava só no lucro.
- O socialismo e o comunismo, que cresciam prometendo igualdade e uma sociedade sem classes, mas que, do ponto de vista da Igreja, negavam a propriedade privada e podiam levar ao ateísmo.
A Igreja Católica, até então, não tinha dado uma resposta clara e completa para essa “questão social”, essa luta entre patrões e empregados, capital e trabalho. E a Rerum Novarum veio pra isso. O Papa Leão XIII não ficou em cima do muro. Ele disse coisas que eram novidade para muita gente na época.
Ele defendeu o direito dos trabalhadores de receber um salário justo que desse pra viver e sustentar a família. Falou que as jornadas de trabalho não podiam ser desumanas e que as pessoas tinham direito ao descanso. Ele também defendeu a propriedade privada, mas deixou claro que ela tinha uma função social, não era pra ser usada só para o egoísmo. E, olha que interessante, ele disse que o Estado tinha sim um papel para ajudar a garantir justiça e proteger os mais fracos, mas sem se intrometer demais na vida das pessoas e das famílias. Ah, e ele incentivou a criação de associações de trabalhadores, tipo sindicatos, mas com princípios cristãos. Foi um documento corajoso que deu um norte para a atuação social da Igreja e que é a base do que hoje chamamos de Doutrina Social da Igreja.
Papa Leão XIII não foi só a Rerum Novarum
Claro que a Rerum Novarum é o carro-chefe quando a gente fala do Papa Leão XIII, mas ele fez bem mais. Como eu disse, ele era um intelectual. Uma das coisas que ele mais valorizou foi o estudo, a busca pela verdade. Ele incentivou muito o retorno à filosofia de São Tomás de Aquino, o tomismo. Sabe por quê? Ele achava que a filosofia de Aquino, que usava a razão para entender o mundo e Deus, era a melhor ferramenta para a Igreja dialogar com a ciência e as filosofias modernas que estavam surgindo, muitas delas céticas ou materialistas. Ele queria mostrar que fé e razão não eram inimigas.
Ele também se dedicou bastante à diplomacia. Lembra que a Igreja estava isolada? O Papa Leão XIII tentou reestabelecer relações com vários países que tinham se afastado ou rompido com Roma, como a Alemanha, que estava no meio de uma treta cultural com a Igreja (a Kulturkampf). Ele conseguiu diminuir as tensões e melhorar a situação dos católicos em vários lugares.
Outra coisa: ele incentivou o estudo da Bíblia. Parece óbvio hoje, mas na época não era tanto assim para os católicos comuns. Ele publicou uma encíclica, a Providentissimus Deus, que deu um empurrão nos estudos bíblicos, sem deixar de lado a interpretação tradicional da Igreja. Isso mostra como ele tentava caminhar junto com o conhecimento que avançava, mas sem perder a referência da tradição e da fé.
E ele escreveu um monte de outras encíclicas, falando de assuntos variados, desde o matrimônio cristão até a devoção ao Espírito Santo. Ou seja, ele foi um papa super ativo, não só na questão social, mas em vários campos da vida da Igreja e da sociedade.
Ainda falamos do Papa Leão XIII hoje, por que?
Então, por que falamos tanto Papa Leão XIII, além da escolha do novo Papa ter sido em homenagem a ele, falamos principalmente, da Rerum Novarum? A resposta é simples: a influência dele, especialmente no pensamento social, é gigantesca. A Rerum Novarum não ficou esquecida numa prateleira empoeirada. Pelo contrário, ela virou o ponto de partida. Todos os papas depois dele, quando foram falar sobre questão social, trabalho, economia, sempre voltaram nela.

- Pio XI escreveu a Quadragesimo Anno, 40 anos depois, pra atualizar o pensamento de Papa Leão XIII, falando da Grande Depressão e dos novos desafios.
- João XXIII, na Mater et Magistra, e Paulo VI, na Populorum Progressio, estenderam os princípios para questões globais, o desenvolvimento dos países pobres.
- Papa João Paulo II, na Laborem Exercens e na Centesimus Annus (100 anos da Rerum Novarum!), revisitou o tema do trabalho e analisou o fim do comunismo, sempre citando Papa Leão XIII como base.
- Papa Francisco, com a Laudato Si‘ (sobre o cuidado da casa comum, o meio ambiente) e a Fratelli Tutti (sobre fraternidade e amizade social), também ecoa muito dos princípios que começaram lá atrás, como a função social da propriedade, a dignidade da pessoa humana e a necessidade de pensar nos mais vulneráveis.
Viu como a coisa conecta? A Rerum Novarum plantou sementes. Ela fez a Igreja sair de uma postura mais defensiva e entrar no debate público sobre a organização da sociedade, o papel do Estado e a relação entre capital e trabalho. E isso continua relevante. As discussões sobre salários dignos, condições de trabalho, o papel dos sindicatos, a desigualdade social, a automação e o futuro do trabalho… tudo isso, de alguma forma, ainda bebe na fonte aberta pelo Papa Leão XIII.
Ele foi um cara que, mesmo com as limitações da época e sendo um papa, que por definição defende a tradição, conseguiu olhar para os problemas reais das pessoas, os operários sofrendo, e dizer: “Ei, a fé tem algo a dizer sobre isso. E não é o que o socialismo diz, nem o que o capitalismo selvagem pratica”. Isso é super importante pra entender a atuação da Igreja no mundo moderno.
Os desafios que o Papa Leão XIII encarou de frente
Olha, a época do Papa Leão XIII não foi moleza. Ele pegou um bonde andando em alta velocidade. A Igreja estava numa situação bem delicada por causa de um monte de coisas acontecendo ao mesmo tempo. O principal, como eu já falei, foi a perda dos Estados Pontifícios para o Reino da Itália. Isso deixou o papa numa posição esquisita, ele se considerava um prisioneiro no Vaticano, sem território para chamar de seu (isso só seria resolvido bem depois, com o Tratado de Latrão em 1929).
Além disso, o século XIX foi o século das ideologias novas: socialismo, comunismo, anarquismo, positivismo, liberalismo radical… Muita gente achava que a religião era coisa do passado, que a ciência ia resolver tudo. A educação estava deixando de ser controlada pela Igreja e passando para o Estado. A fé estava sendo questionada por novas descobertas científicas e por filosofias que colocavam o ser humano ou a razão no centro, e não mais Deus.
O Papa Leão XIII teve que lidar com tudo isso. Ele não simplesmente ignorou os problemas. Ele tentou responder a eles, seja pela diplomacia com os governos, seja publicando documentos que explicassem o ponto de vista católico sobre esses assuntos. Ele sabia que a Igreja não podia ficar calada enquanto a sociedade mudava radicalmente. Ele tentou encontrar um caminho para a Igreja existir e ser relevante num mundo que estava se tornando cada vez mais secular e plural. Não foi fácil, e ele cometeu erros também, como qualquer líder em tempos turbulentos, mas ele foi um papa que marcou seu tempo pela capacidade de analisar a realidade e tentar adaptar a ação da Igreja a ela, sem jogar fora os princípios.
Como era Papa Leão XIII
Sabe, é legal pensar também no lado humano do Papa Leão XIII. Ele era um cara bem magrinho, fraquinho de saúde na juventude, mas que virou bispo, cardeal e papa, e viveu até os 93 anos! Para a época, isso era uma eternidade! Dizem que ele tinha uma rotina bem regrada, estudava muito, escrevia pra caramba (as encíclicas não se escreviam sozinhas, né?), e era muito disciplinado.
Ele não era um papa “populista”, que ia pra rua abraçar todo mundo, até porque a situação política não permitia muito (lembra da “prisão” no Vaticano?). Mas ele tinha um jeito firme e ao mesmo tempo aberto para o diálogo. Ele não era radical como alguns gostariam, nem liberal como outros. Ele tentava achar um caminho no meio, defendendo a doutrina com unhas e dentes, mas entendendo que o mundo lá fora estava mudando e que era preciso conversar.
Imagino que não deve ter sido fácil envelhecer tanto e ver o mundo virar de ponta-cabeça no seu tempo. Ele viu a eletricidade se popularizar, o automóvel começar a aparecer, a indústria crescer assustadoramente. E ele, com a cabeça pensante, tentando dar uma resposta da fé para tudo isso. É um exemplo de como a Igreja tenta, mesmo que às vezes tropece, se manter relevante e presente na história da humanidade, encarando os desafios de cada época.
Se você tiver interesse em ler a Rerum Novarum na íntegra, dá uma olhada nesse texto histórico importante.
Fechando o papo sobre o impacto do Papa Leão XIII
Então, pra gente ir amarrando a conversa, o Papa Leão XIII foi esse cara que pegou a Igreja num momento de crise e isolamento e tentou reposicioná-la no mundo. Ele usou a inteligência, a diplomacia e, principalmente, a capacidade de analisar a realidade para dar respostas. A Rerum Novarum é o grande legado dele, sem dúvida, por ter sido o primeiro documento papal a encarar de frente a questão social do jeito que ela se apresentava na era industrial.
Mas, como vimos, ele fez mais: revalorizou a filosofia clássica, buscou o diálogo com os Estados, incentivou os estudos bíblicos. Ele preparou o terreno para muita coisa que viria depois na Igreja. Ele mostrou que é possível ser fiel à tradição e, ao mesmo tempo, olhar para o mundo com realismo e tentar iluminar os problemas com a luz da fé. Foi um pontificado longo e fundamental para a história da Igreja e até mesmo para a história das ideias sociais no Ocidente.
Escolha do nome Papa Leão XIV
É isso, chegamos ao fim do nosso bate-papo sobre o Papa Leão XIII. Vimos que ele foi um pontífice crucial, especialmente por causa da Rerum Novarum e sua abordagem da questão social. Mas ele foi muito mais do que isso, um diplomata, um intelectual que tentou modernizar a forma da Igreja dialogar com o mundo, mantendo sempre sua essência. Vimos por que Papa Leão XIV escolheu esse nome. Agora que o Papa Leão XIV faça um bom papado olhando para os mais vulneráveis seguindo o exemplo de seus antecessores. Boa sorte Papa Leão XIV.
FAQ
O que é a Rerum Novarum que você falou tanto?
Ah, a Rerum Novarum é uma carta, uma encíclica, que o Papa Leão XIII escreveu em 1891 falando sobre a situação dos trabalhadores na Revolução Industrial. Foi a primeira vez que um papa falou de forma profunda sobre direitos trabalhistas, salários justos, papel do Estado e dos sindicatos.
Por que o Papa Leão XIII é considerado tão importante?
Principalmente porque ele encarou os problemas do mundo moderno, tipo a briga entre capital e trabalho, e deu uma resposta vinda da Igreja. A Rerum Novarum virou a base de todo o pensamento social católico depois dele. Ele tirou a Igreja de um certo isolamento e tentou fazer ela conversar com a sociedade.
O Papa Leão XIII defendia a ciência?
Ele não defendia a ciência contra a fé, claro. Mas ele valorizava muito a razão e o estudo. Ele incentivou o uso da filosofia clássica, como a de São Tomás de Aquino, que busca harmonizar fé e razão, pra dialogar com os avanços do conhecimento e as novas ideias científicas e filosóficas da época.
Quanto tempo o Papa Leão XIII foi Papa?
Ele foi Papa por 25 anos, de 1878 a 1903. Foi um pontificado bem longo, um dos maiores da história.
Ainda vale a pena ler a Rerum Novarum hoje
Com certeza! Mesmo sendo de 1891, os princípios que ela defende sobre dignidade do trabalho, salário justo, função social da propriedade e o papel do Estado ainda são super relevantes para as discussões de hoje sobre economia, desigualdade e justiça social.
Graduação em Licenciatura Plena em Pedagogia e História, e Pós Graduação em Educação Especial e Inclusiva. Especialista em Educação Básica, SEE MG. Entre em contato comigo pelo email andressa.ac17@gmail.com ou pelo @andressacarvalh0, ou por por qualquer endereço do Ibuma.