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A Profecia dos Papas: São Malaquias, previu o Fim Mesmo?

Sabe quando a gente ouve falar que a saúde do Papa está delicada, ou que tem um novo sendo escolhido? Vira e mexe, junto com a notícia, aparece aquela conversa sobre uma tal Profecia dos Papas, atribuída a um sujeito chamado São Malaquias. É aquela lista de lemas que supostamente prevê todos os Papas até um tal “Pedro, o Romano”, que seria o último antes do fim do mundo. Parece coisa de filme, né? Mas e na vida real, o que a história diz sobre isso? Bora ver os fatos e separar o joio do trigo.

Afinal, o que diz essa tal Profecia dos Papas?

A lenda (e é bom já ir chamando de lenda) conta que São Malaquias, um bispo lá da Irlanda que viveu no século XII – e, sim, ele existiu de verdade –, teve uma baita visão em 1139, durante uma viagem a Roma. Dizem que nessa visão ele recebeu uma lista de 112 frases curtinhas, em latim. Cada uma dessas frases, os tais lemas, descreveria um Papa futuro, começando com o que foi eleito logo depois, o Celestino II (em 1143). A lista segue, uma frase por Papa, até chegar no número 112. E esse último é o que coloca mais medo, viu? Ele seria o Petrus Romanus (Pedro, o Romano). A profecia, nesse ponto, fica mais dramática, falando que durante o papado dele, a Igreja passaria por um perrengue enorme, Roma seria destruída e, tcharam: o Juízo Final. Meio assustador, né?

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E por que a gente tá falando disso agora? O Francisco está na lista?

 Pois é, a história dessa profecia ganhou um gás danado nos últimos anos, principalmente por causa do Papa Francisco. Pensa bem: ele é o 266º Papa desde São Pedro, segundo a contagem oficial da Igreja. Mas na lista da profecia, ele seria o 111º. Isso colocaria ele na posição de penúltimo Papa antes do tal Petrus Romanus. O lema associado a ele na lista é um tal de: “In psecutione extrema S.R.E. sedebit”. Que, traduzindo assim por cima, seria algo como “Durante a última perseguição à Santa Igreja Romana, ele sentará” (no trono, ou seja, governará). Muita gente olha pra essa frase e fala: “Tá vendo! Os tempos estão difíceis pra Igreja, ele está enfrentando um monte de crise, é a perseguição final!”. E se ele é o penúltimo, o próximo seria quem? Exato, o Petrus Romanus, que viria pra fechar a conta e, segundo a profecia, trazer o fim do mundo. Parece que encaixa, né? Mas calma que não é bem assim.

Tá, mas qual é a pegadinha? Isso é real mesmo ou balela?

Aqui que a gente entra no lado mais histórico e menos místico da coisa. Por mais que a ideia seja tentadora – um santo medieval prevendo séculos de história! –, a verdade é que a maioria esmagadora dos historiadores e até a própria Igreja Católica (que, aliás, não dá a menor moral oficial pra essa lista) não compram essa ideia. E tem uns motivos bem fortes pra isso, viu?

Primeiro ponto: ela só apareceu MUITO tempo depois. São Malaquias morreu em 1148. Onde essa profecia foi publicada pela primeira vez? Num livro de 1595, chamado “Lignum Vitae”, escrito por um monge. Faz as contas: mais de quatrocentos anos de diferença! Peraí, uma profecia tão importante assim, que falava do futuro da Igreja até o fim, ficou guardada no bolso por quatro séculos? Meio estranho, não é mesmo? Se fosse real, a gente esperava que São Bernardo de Claraval, o amigo e biógrafo de São Malaquias, tivesse falado alguma coisa, né? Ele escreveu um monte sobre a vida e os supostos milagres do amigo, mas sobre essa profecia… silêncio total. Esse silêncio do amigo íntimo é uma bandeira vermelha gigante pra quem estuda isso.

E a precisão dos 'lemas'? Tem um detalhe que muda tudo...

Aqui está o pulo do gato para entender por que essa profecia cheira a forja. Vamos comparar a precisão dos lemas antes e depois daquela data mágica de 1595, quando o livro foi publicado.

Pensa nos Papas que já tinham reinado antes de 1595. Os lemas pra eles são impressionantemente precisos. Muitos fazem referência clara ao nome de batismo do Papa, ao brasão da família, ao lugar de origem, ou a algum evento super marcante do papado. É quase como um retrato falado, sabe? Tipo, “Papa do brasão com ursos” (se o brasão tivesse ursos), ou “Papa que nasceu em tal lugar”. Isso é muito específico!

Agora, compara com os Papas que vieram depois de 1595. Os lemas pra eles… bom, viram uma bagunça genérica. São frases super vagas, que podem significar um monte de coisa diferente. Pra “encaixar” um lema num Papa pós-1595, a galera precisa fazer umas interpretações que parecem ginástica mental. É tipo horóscopo: a frase é tão ampla que você força a barra para ver se serve para sua vida. Essa diferença brutal na precisão é, a prova mais forte de que a lista foi feita depois que muitos desses Papas já tinham governado.

A explicação mais provável: Uma 'profecia' escrita depois do jogo

Os historiadores têm um nome chique pra isso: vaticinium ex eventu. É latim, mas a ideia é simples: é uma “profecia escrita depois que o evento já aconteceu”. Tipo você prever o resultado de um jogo de futebol depois que ele já acabou, entende? A maior parte dos pesquisadores acredita que a Profecia dos Papas é exatamente isso: Alguém, ali no finalzinho do século XVI (pertinho de 1595), inventou a lista inteira.

Essa pessoa (ou grupo) simplesmente olhou para trás, pegou a lista de todos os Papas desde o século XII, pesquisou um pouco sobre eles (nomes, brasões, origem) e criou os lemas super precisos para esses Papas do passado. Como já sabia a história, era fácil ser “profético”. Aí, para o futuro (depois de 1595), essa pessoa só inventou um monte de frases vagas e simbólicas.

Qual seria a motivação pra isso? A hipótese mais aceita é que a lista foi forjada pra dar um empurrãozinho político. Naquela época, fim do século XVI, tinha uns conclaves pegando fogo (a eleição do Papa, lembra?). Acredita-se que a profecia foi criada pra influenciar os cardeais a votarem em um candidato específico, fazendo parecer que ele era o “destinado” segundo a lista. Há quem diga que a intenção era favorecer o Cardeal Girolamo Simoncelli. O lema associado a ele seria “Ex antiquitate Urbis” (“Da cidade antiga”). Simoncelli era de Orvieto, que em latim era Urbs Vetus (Cidade Velha). Está vendo a conexão? É uma jogada esperta, usando uma suposta profecia antiga pra mexer os pauzinhos na política da Igreja da época.

Para fechar essa ideia

Então, quando você ouvir falar de novo da Profecia dos Papas e do Petrus Romanus, lembre-se que, por mais fascinante que seja a ideia de um santo medieval vendo o futuro, a coisa não se sustenta historicamente. As evidências apontam forte mesmo para uma falsificação lá do século XVI, feita com um propósito bem mundano: influenciar uma eleição papal. É um exemplo legal de como mitos e lendas podem se agarrar em eventos reais e ganhar vida própria, mas não é para perder o sono pensando no fim do mundo por causa dela.

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Uma curiosidade histórica? Não, um bilhete para o Apocalipse

No fim das contas, a Profecia dos Papas é uma daquelas histórias que pegam a gente pela curiosidade. Mistura santo, Vaticano, fim dos tempos… mas, na real, ela é mais um artefato histórico interessante do que uma previsão divina. Uma peça que mostra um pouco da política e das crenças do final do século XVI. Para quem curte história, é um prato cheio pra estudar como boatos e falsificações funcionavam naquela época. Mas como guia para o futuro da Igreja ou do mundo? Pode relaxar, que ela não serve pra isso.

FAQ

Essa Profecia dos Papas é reconhecida pela Igreja Católica?

Não, a Igreja Católica não dá reconhecimento oficial pra essa lista. Ela é tratada mais como uma curiosidade ou lenda.

O São Malaquias existiu mesmo?

Sim, São Malaquias de Armagh foi um bispo Irlandês real que viveu no século XII. O que não é provado é que ele teve essa visão da lista de papas.

Se o Papa Francisco é o penúltimo, o próximo Papa será o temido Petrus Romanus?

Segundo a profecia, sim. Mas como as evidências históricas mostram que a profecia provavelmente foi forjada no século XVI, essa parte sobre o Petrus Romanus e o fim dos tempos não tem base histórica sólida.

Por que alguém inventaria uma profecia assim?

A hipótese mais aceita é que foi criada no final do século XVI para tentar influenciar a eleição de um novo Papa, favorecendo algum candidato específico.

Devo me preocupar com o fim do mundo por causa dessa profecia?

Pela perspectiva histórica e da maioria dos especialistas, não. A Profecia dos Papas parece ser uma falsificação antiga, não uma previsão genuína.

São Malaquias no Século XII

Um bispo irlandês chamado Malaquias realmente viveu no século XII. A profecia é atribuída a ele, embora a ligação histórica com a lista de papas seja fraca.

A Suposta Visão em 1139

A lenda diz que São Malaquias teve uma visão em Roma neste ano, recebendo a lista de 112 lemas que preveriam todos os Papas.

Início da Lista: Celestino II (1143)

A profecia supostamente começa com Celestino II, o Papa eleito logo após a data da visão atribuída a São Malaquias.

Morte de São Malaquias (1148)

São Malaquias faleceu em 1148. Amigos próximos e biógrafos da época não mencionaram a existência da profecia, o que levanta dúvidas sobre sua autenticidade.

A Profecia Aparece em 1595

A lista de lemas foi publicada pela primeira vez mais de 400 anos após a morte de São Malaquias, num livro de 1595. Este grande intervalo sem menção histórica é a primeira e maior suspeita.

Diferença na Precisão dos Lemas

Os lemas para Papas anteriores a 1595 são impressionantemente específicos, enquanto os lemas para Papas posteriores são vagos. Essa diferença sugere fortemente que a lista foi criada depois dos eventos iniciais.

Explicação Histórica: Vaticinium ex Eventu

Historiadores concluem que a profecia é um "vaticinium ex eventu" – uma profecia escrita após os fatos já terem ocorrido – para os Papas que viveram antes de 1595.

Motivação: Influência Política (Fim Séc. XVI)

A hipótese mais aceita é que a lista foi forjada no final do século XVI para tentar influenciar a eleição de um novo Papa em um conclave da época, favorecendo um candidato específico.

Relevância Atual: Papa Francisco

A profecia ganhou notoriedade recente pois Papa Francisco é visto como o penúltimo Papa na lista (o 111º), antes do temido "Petrus Romanus", reacendendo discussões sobre o fim dos tempos.

Conclusão: Curiosidade Histórica

A Profecia dos Papas é amplamente considerada por historiadores e pela própria Igreja como uma falsificação do século XVI, sendo mais um artefato histórico interessante do que uma previsão genuína do futuro.

Graduação em Licenciatura Plena em Pedagogia e História, e Pós Graduação em Educação Especial e Inclusiva. Especialista em Educação Básica, SEE MG. Entre em contato comigo pelo email andressa.ac17@gmail.com ou pelo @andressacarvalh0, ou por por qualquer endereço do Ibuma.

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